Francisco José Viegas, o editor

Subitamente, eu, o editor feliz, o escritor sem preocupações, cometi este erro de aceitar um cargo político. Mas, não vamos falar disso pois não?”

Acredito que a nossa relação com a Europa não é feliz porque uma parte essencial das nossas raízes continua em África e no Brasil... Com a crise, muitos regressaram para lá. Em dez anos, fizemos todas as reformas pedidas pela Europa (o aborto, o casamento homossexual). Foi sem dúvida rápido, mas ao mesmo tempo a nossa economia não conseguiu criar bases sólidas. Estamos muito dependentes da situação espanhola, grega, irlandesa. Perdemos a nossa agricultura, a nossa pesca e a nossa indústria já pouco conta. Só nos resta a nossa cultura e o mar como oferta turística

Vivemos numa sociedade que perdeu os seus sonhos. Os portugueses têm medo do futuro, de falar. E isto acontece depois da Inquisição, que foi há 300 anos, e de 50 anos de regime fascista de Salazar. Hoje, com a crise, continua. É terrível.”

Francisco José Viegas, o editor/escritor, em entrevista ao jornal francês Le Monde.

Quando ouvi que FJV seria o próximo secretário de estado da cultura fiquei contente, sempre achei que a qualidade dos políticos portugueses é muito má (basta pensarmos no nosso presidente da república ou no atual ministro adjunto), precisamos de independentes que saibam do que estão a falar sem tiques de politiquice de vão de escada. Francisco José Viegas para a pasta da cultura era isso mesmo, um independente que sabe. Sabe o que falta, sabe o que é preciso fazer, sabe. Mas a política, neste país, não se faz com quem sabe mas com quem finge que sabe, não se faz com profissionais mas com ignorantes e incultos e Francisco José Viegas não se encaixa e jamais encaixará nesta politica e muito menos com estes políticos – até fica mal perto deles - e, nós, nós precisamos do editor/escritor de volta para não perdermos tudo.
“Tudo parece gasto, tudo: os corredores, as janelas,
mas sobretudo os nomes das coisas, a forma como
se organizam e se preparam para a morte,
o modo de tudo desaparecer. Um sentido
para as coisas, um sentido para dar às coisas.
Ter medo e saber, esquecer e querer esquecer.
Sento-me à noite na varanda onde o frio chega
primeiro e reparo que tudo parece gasto e sem sentido.”

“Se me comovesse o amor”, por Francisco José Viegas, o escritor

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Era covid: longe mas perto