My own private carnival 2013




Nunca gostei do carnaval, nunca. A minha memória mais remota desta palhaçada foi ver-me no palco do extinto Europa, em Campo de Ourique, vestida de Rainha Santa Isabel e o meu irmão todo contente - cheguei a odiá-lo por isso - mascarado de mosqueteiro... e não eram estas máscaras que agora se compram nas grandes superfícies, nada disso, eram máscaras à séria, feitas pela nossa dedicada avó, tão à séria que me lembro de ter tido o meu primeiro afrontamento e o meu irmão continuava todo contente armado em mosqueteiro..., mais tarde, já no liceu, levei com um ovo, melhor, esfregaram-me na cabeça ovo e farinha e, como se isto não bastasse, ainda juntaram água... resultado, tive meses a chorar scones.

À conta destes tristes episódios gosto tanto do carnaval como de levar uma facada nas costas.

2013, passados mais de 30 anos deu-me para "carnavalar"... não sei o que meu, não sei se foi da troika se do passos coelho ou da negridão a que me expôs recentemente, não sei. O que sei é que quando vi Garreth MacNamara a surfar uma onda com 34m, pensei logo em fazer-lhe uma homenagem e mascarar-me de surfista.

Adoro homens surfistas, mafiosos, ladrões sofisticados com a mesma intensidade que detesto ciclistas - sempre tive queda para homens com cara de maus, bonitos, misteriosos e musculados.

Vamos ao que interessa, a máscara. E essa era simples de obter, para isso bastou-me um telefonema e passado 2h tinha a máscara: fato completo, prancha, pés, base para ficar castanha que os surfistas estão sempre morenos e eu estou branca que até encadeia quem passa, ah também tenho o bigode preto... fiquei toda contente e pensei que não seria necessário experimentar antes dado que sou magra e o fato é dum homem um pouco mais alto e largo iria servir-me na perfeição...- ser-se ignorante é uma coisa triste -, ainda por cima eu já os tinha visto, aos fatos de surf, não eram propriamente uma coisa desconhecida para mim.

Para ajudar e como estamos entroikados só nos deram a tarde, logo teria que trabalhar de manhã logo não poderia deitar-me tarde - a vida dum pobre é um mistério -, logo nada de grandes "animações", logo a noite iria ser curta... enfim, todos os ingredientes para a coisa correr bem e ainda não tinha começado.

Party time, vamos vestir a palhaçada e pronto acabou a minha noite... quando ao fim de duas horas de muita luta com direito a pontapés na mobília, prateleiras a cair e muita falta de ar, quando finalmente me consegui endireitar e fechei o fato... não conseguia respirar, tudo em mim me apertava tanto que não conseguia encher os pulmões..., depois de deixar entrar ar abrindo o fecho lá arranjei maneira de conseguir respirar lentamente, mas depois veio a dificuldade nos movimentos, cada vez que me dobrava ficava na mesma posição 10 minutos sem me conseguir mexer, parecia que o fato prendia a minha pele... após duas horas lá consegui estar minimamente confortável - qual catwoman suit - e lá fui... lá "palhacei"... lá cheguei a casa.

Como sou uma rapariga de sorte a minha noite não acabou aqui.

Cheguei cansada, divertida mas cansada e faltavam 6 horas para me levantar... lá abri o fecho, lá puxei o fato para baixo e lá aconteceu nada... nada. Nada se mexia, aquilo que vemos os surfistas fazer na praia em que puxam os fatos para baixo é ilusão da ótica ocular, pura. Aí perdi o rancor... e lá consegui arrancar o fato aos gritos e saltos, quando... surpresa... aí percebo que este mês já não preciso de ir à depilação, não tenho um pêlo no corpo. Um que seja para contar a história.

Continuo a odiar o carnaval e as ideias de merda.

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