O Massacre de Portugal

Peguei no OE-2010, juntei-lhe os PEC e submeti-me a uma tarefa arriscadíssima: tentar perceber o que está por trás destas publicações. Para reduzir um ponto e chegar ao défice de 7,3% do PIB em 2010, precisávamos de €1,7 mil milhões; com o PEC I, avalizado pelo PSD, o Governo propôs-se cortar 1,16 pontos, o que dá €1,9 mil milhões. Se já havia este excedente, por que raio tivemos de recorrer ao fundo de pensões da PT? Por causa dos submarinos? Ignorávamos que existiam?
O caso de 2011 é pior. Para reduzir dois pontos e atingir um défice de 4,6% do PIB, seriam necessários €3,4 mil milhões. Mas o PEC II, que o Governo publicou a 02 de Julho, refere uma poupança de 3,95 pontos. Descontada a presumível acumulação, ainda assim chegamos a €4,8 mil milhões, muito acima do necessário. Porquê? O que é que estavam a esconder-nos? E por que motivo o "pacotão" de 29 de Setembro ainda vai além deste valor?
Sejam quais forem as respostas, aquela opção altera tudo, porque as quedas brutais no consumo e no investimento vão provocar uma recessão em 2011. Foi então que eu percebi. A parte escondida era esta: os dois submarinos, o primeiro dos quais a senhora Merkel mandou afectar a 2010; a nova recessão, que o Governo preferiu não assumir; e as parcerias público-privadas, prestes a sair da incubadora. A folga é bem capaz de não chegar.
Mas o problema não acaba aqui. Admitamos que, em 2012 e 2013, o PIB vai decrescer em volume o que subir em preço, mantendo-se nominalmente idêntico ao de 2011. Para atingirmos os défices de 3% e 2% do PIB previstos, precisamos de mais €4,4 mil milhões. E o esforço de consolidação terá de ser ainda maior do que os anteriores. Que fazer? Vendemos os submarinos? Absorvemos mais fundos? Passamos a protectorado espanhol?
Até agora só falámos de défices. Mas há também uma dívida para gerir. No final de 2013, ela deverá rondar os 85% do PIB, €150 mil milhões, uma tragédia só em juros. Seria prudente ir alertando as pessoas para a inevitabilidade de mais PEC - os que forem necessários para trazer aquela dívida até aos 60%. O que nos espera tem um nome: massacre. Não me surpreenderia se, findo o processo, o país tivesse recuado 20 anos. Nos gastos e no resto...
Este modelo faliu.


Com um esforço incomensurável dos Portugueses, o défice talvez venha a estar controlado no final de 2013. Mas não a dívida, que nessa altura representará cerca de 85% do PIB, €150 mil milhões, uma loucura. A austeridade vai ter de prosseguir. Acresce que, com o país em recessão em 2011, as projecções constantes do PEC deixaram de ser exequíveis, obrigando a um esforço ainda maior.
Vêm aí anos muito difíceis...

Fontes: Governo, Banco de Portugal

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